quarta-feira, 1 de outubro de 2008

TEMPOS DIGITAIS

Estamos próximos do dia em que a primeira palavra que uma criança vai dizer é: digital. Ficou para trás, no tempo de nossos pais, a expectativa se o filho aprenderia a dizer papai ou mamãe, em primeiro lugar. Não que isso seja bom ou ruim, é apenas sinal dos tempos.

O termo digital aparece no dicionário Aurélio com a seguinte definição, entre outras apresentadas para o verbete: 5.Eletrôn. Diz-se de aparelho ou circuito cujo funcionamento é baseado em microprocessador. Digital é só isso, uma coisa bem simples. A palavra deriva do latim e é relativa aos dedos.

O ato de deixarmos impressos as marcas da pele de nossos dedos em documentos, é chamada de impressão digital e é uma expressão bem antiga, do tempo em que não havia ainda a tal tecnologia digital. O relógio é digital, a foto é digital, o telefone é digital, o filme é digital, até esse meio que você está usando para ler isso é digital.

O que se quer mostrar aqui é que a digitalização não é o fim de nossos problemas. Quando você “baixa” uma música da internet, obviamente ela está no formato digital e você pensa que a qualidade é superior ao vinil que você ainda guarda. Está redondamente enganado. Não se esqueça que a voz humana, a vibração das cordas de um violão e o som produzido pelo couro de um instrumento de percussão, são analógicos. E se essa gravação foi transcrita de um vinil que foi “tocado” pelo menos dez vezes haverá um nível de chiado, peculiar ao desgaste provocado pelo atrito das partes.

Existem meios que tentar eliminar o tal chiado – incômodo para uns, charme que só o vil tem, para outros. Os mecanismos usados para esse fim, chamados de filtro, e também digitais, baseiam-se no seguinte: o chiado é um som, logo, ele possui uma freqüência, portanto é só se descobri qual é essa freqüência, aplica-se o filtro e está pronto. Que bom se fosse assim.

Acontece que os chiados não são iguais, como não são iguais os sons de um violão. E até se confundem. Pense assim: se um ruído que vibrasse em 8.000Hz juntamente com uma nota musical de igual freqüência, recebesse a filtragem, ambos sofreriam uma redução na sua intensidade. O chiado supostamente some, mas a nota também perde a chamada “clareza”, determinada pelas freqüências mais altas.

Uma câmera de vídeo para TV de alta definição, e um celular, com dispositivo para captação de imagens, o fazem através de meios digitais. Porém não se pode, nem de longe, comprar os resultados. Você não suportaria assistir, no conforto de sua sala, diante de sua TV de LCD 42 polegadas a 10 minutos de uma novela que fosse produzida com uma celular de 1 Megapixel. Não é porque a embalagem de um produto ostenta em design ultra moderno a expressão digital, que aquilo vai te trazer o resultado esperado.

Se a foto foi feita num ambiente em que havia deficiência de luz e se o áudio foi captado num ambiente ruidoso, não há nada que a tecnologia (digital) possa fazer. Portanto, antes de usar seu equipamento, leia atentamente as instruções do fabricante, mesmo que parece chato, isso vai te poupar de desilusões.

Não acredite em tudo o que você lê.

Roberto Carlos Ferrari Gallo

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